Eis que um dia os cinco sentidos resolveram fazer uma página na internet. Em verdade a idéia partiu dos olhos, idéia essa que rápido rasteiro foi aprovada pela boca que mais pensava do que falava. E assim se seguia; a sala voava, voava longe e as paredes, coitadinhas, estavam todas assustadas de tanto sentimentos a borbulhar. Era como uma corrida: a boca falava, o olho piscava, a boca abria, o olho fechava, a boca via, o olho gargalhava. Uma fagulhada de letras voando por toda a sala... o olho, o olho, o olho, o olho, a boca, a boca, a boca, a boca, o olho, a boca, a boca, o olho, o olho e a boca, o olho e o olho, a boca e a boca...silêncio...se o nariz estivesse presente talvez respirasse.
O tato? Hunf, o tato resolveu achar que sentir virtualmente era possível e assim deu seu pitaco na idéia. Estava ele, todo pomposo e com o perdão do trocadilho: Se sentindo. Não sabia o que tatear, suas novas luvas foram o deleite da tarde. O tato é alguém diferente, nem ele mesmo sabe o que é. Não se sabe cinco dedos ou cobra rasteira que precisa sempre se esfregar sentindo sempre a sensibilidade dos outros... Assim – Simples.
Hun? Como? Claro que ela não podia deixar de passar... Nesse dia a orelha estava com rinite, o que não significa que a orelha tenha problemas com o nariz, pelo contrário, tecem uma amizade agradabilíssima, às vezes desleal, porque se é a orelha que escuta qualquer flatular desagradável é o nariz que paga o pato, mas indiscutivelmente uma linda amizade.
E o nariz... o nariz tem asas.
...
O nariz nesse dia resolveu levar a sério o ditado popular, “Não meta o nariz onde não foi chamado”, não soube dessa bagunssagem toda, mas só não foi chamado porque a tarifa não anda tendo graça, diga-se de passagem.
Sentir
Dos cinco sentidos
sabe-se apenas o estar
não se sabe do olho
a janela pra se observar
o escuro e o claro
de lágrimas ambíguas
de lado e brilhantes
a te devorar
ressacar
capitular
na dúvida se realmente preferem olhar – sentindo.
Nem do tato
que no seco ou no molhado
no quente ou no frio
esta sempre a tatear
Sofrendo, ardendo, anoitecendo e amanhecendo
pêlo avesso – sentindo.
A boca que come
a boca que xinga
a boca que sorri
a boca que reza
a boca que nasceu paladar – sentindo.
O nariz, sempre centrado
metido – quando alto,
submisso – quando baixo
mas sempre centrado.
O nariz... la sensibilité à l'odeur – Sentindo.
E a orelha...
(vamos ficar todos em silêncio)
...
e a orelha coitadinha
que quase se desfaleceu pelo silêncio de não escutar.
A que tem a propriedade
de ser dupla:
Pra melhor te ouvir
ou para somente como um túnel funcionar
entrando de um lado e saindo do outro.
Mas sempre orelha, mansa ovelha, há pensar.
Dos cinco sentidos
sabe-se somente do amar
a tez de um viver
pra sempre, em qualquer idade
- amorozidade –
sentir, sem ti, sem sentido.
[postado por Lucas Pessoa]